quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ser Voluntário - Um exemplo na Missão de Marrere ( Moçambique)

O doutor “mocunha”

“Mocunha” designa, em língua macua, estrangeiro ou branco . Claro que o tom de pele varia de pessoa para pessoa. Mas que há indivíduos mais brancos do que outros é uma realidade natural e habitual. O certo é que os nórdicos pouco habituados ao sol, aparecem neste país com uma alvura maior. Por isso, a criançada depressa os baptiza de “mocunhas”.
A Missão em Março recebeu um jovem alemão, meio careca, revelando estar pouco habituado ao sol.
Benjamin Wolf é o seu nome. Natural de Freiburg na Alemanha, muito cedo se habituou a conhecer outros povos. Terminou o ensino secundário em Coconut Creek (Florida, USA) e frequentou o terceiro ano de medicina em Lisboa. Em 2011 enquanto fazia o ano comum de medicina em Leipzig, Viena e Salvador (Brasil), resolveu trabalhar por um mês no Hospital Geral do Marrere, em Nampula-Moçambique. Chegou para trabalhar com os doentes que não têm acesso aos cuidados mínimos, aliás sonho de muitos estudantes de medicina da Europa. O contacto com uma cultura diferente e o contacto com outro sistema de saúde, foram desafios que o levaram a deixar a tranquilidade e optar pelo inesperado e até insólito do continente africano
Acolhido na Missão, tendo como patrono o Dr.Amanzio, cardiologista italiano, também ele voluntário e o Dr.Daniel, médico moçambicano de clínica geral, depressa sentiu a urgência de ajudar os trezentos e muitos doentes que diariamente esperavam consulta e os cerca de 150 doentes hospitalizados .
Não foi fácil trabalhar num hospital africano onde, tantas vezes, aparece a mistura do sofrimento, alegria, incúria e a insensibilidade. Revoltava-o a preguiça ,a despreocupação e ainda falta de compaixão pelo sofrimento dos doentes. Custava-lhe sempre compreender a passividade do pessoal perante a dor alheia. Não compreendia a falta de medicamentos, sobretudo antibióticos, vitaminas e analgésicos. Dizia: “a morte é omnipresente e os médicos e enfermeiros quase nunca sentem uma falha médica – a morte não é algo realmente evitável – fica nas mãos de Deus”.
Todas as manhãs, vestia a sua bata branca e colocava o estetoscopio e partia para uma nova aventura. Diariamente trazia histórias clinicas, melhor dramas de quem sente a dor e a morte como algo próprio. De tarde, voltava ao hospital para acompanhar a evolução dos doentes e ver se os doentes e verificar se estes tinham recebido os medicamentos Foi incansavel durante o seu tempo de permanência ,certamente devido á sua juventude e entusiasmo . Sentia-se bem como médico e como ser humano. Não foram poucas vezes que dava um salto á cidade de Nampula para comprar medicamentos nas farmácias e ministrar aos doentes. Sentia-se bem por partilhar o seu saber e a sua generosidade. Não se cansave de repetir a importancia de um estágio clinico num hospital africano como algo obrigatório a todos os estudantes de medicina dos países europeus.
Regressou á Alemanha cheio de histórias e plenamente realizado por ter tido a coragem de ter oferecido o seu mês de férias aos doentes moçambicanos. Marcou a diferença com a sua generosidade, mas por certo a experiência que fez no Hospital Geral do Marrere e as vivências numa Missão católica ficarão para sempre na sua memória e no seu curriculum.
(História contada pelo Sr. Pe. Jacob, Missionário de S. João Baptista)

Sem comentários:

Enviar um comentário